sexta-feira, setembro 7

DISCORDANDO COM RALPH W. EMERSON - A INSTRUÇÃO É INSUFICIENTE E ALIENANTE.

“Deviam parar com a demagogia sobre as massas. As massas são rudes, sem preparação, ignorantes, perniciosas em suas reivindicações e influências. Não precisam de lisonjas mas de instrução”

Ao ler esta opinião de um tal Emerson discordo plenamente da sua sabedoria resignada. Respeito sempre uma opinião, mesmo quando discordo plenamente do seu conteúdo, e é aí, que o respeito pelo emissor se torna ainda maior. É-me dado um prazer respeitador imenso quando certas palavras que vão para além do homem que as escreveu fazem crescer em mim muitas outras palavras capazes de dar um sentido justificado para com aquilo com o qual não concordo. Sendo assim, é inevitável dizer o seguinte:

A demagogia é coisa feia, horripilante até, como tal, tal opinião não passa disso mesmo, DEMAGOGIA, e pior do que isso, acrescentando eu à frente a palavra RESIGNADA, tudo fica ainda mais assustador. Quero eu com isto concordar que “As massas são rudes, sem preparação, ignorantes, perniciosas em suas reivindicações e influências”. Se assim é, pode não ser, é apenas a minha e a opinião desse tal de Emerson que se insere tristemente nas massas que são tudo aquilo que as suas palavras descrevem… Tal pensador devia ser sem dúvida nenhuma um homem limitado aos seus estudos e à sua curta observação. Tristemente pode-se dizer que a sua preparação para a vida era insuficiente para poder perceber o que realmente se passava no seu mundo que era o de todos. Ignorante também o era pelos vistos… Sem me alongar prometo que dará para perceber mais adiante. Continuando. Tal senhor digno de tal nome arrastado pela memória a que chamamos de História deve ter sido em vida homem de grandes feitos e escritos, homem carregado de dom e consequentemente lisonjeado por outros instruídos como ele. Forçosamente, uma dúvida levanta-se:

De que serviram as suas opiniões e reivindicações?

De nada certamente! Encheu o seu universo pessoal de prazeres, de pequenas coisas necessárias ao desenrolar duma vida, mas no entanto, esta sua afirmação de resignado, denota que algo lhe faltou, um certo descontentamento cresceu, algo que lhe fugiu da sua compreensão instruída. Não quero eu com estas dilações demonstrar-me como um ser iludido que transcende tal notável pensador, nada disso! Sou apenas um homem, ou um jovem, uma partícula numa massa disforme que conclusivamente não tem instrução suficiente para compreender o que quer que seja… mas uma coisa é certa, tanto em mim jovem partícula das massas rudes, como em Emerson, como até nas “massas perniciosas em suas reivindicações e influências” o descontentamento é grande, por muito escondido e dissimulado que esteja. Isso… é certo! Por muitas dúvidas que me consumam avidamente, as massas elitistas, intelectuais, normais e outras coisas que tais, tem esse sentimento em comum, sentem que algo falta que dê verdadeiro sentido à existência, nem que seja segmentada e misteriosamente. Sentem que os carris estão tortos e enferrujados. Mas no entanto, a massa maior, a dos pouco ou nada instruídos, a massa rude sem preparação e ignorante, vive à custa dos lisonjeados, vive sob o padrão que lhes é entregue por mãos preparadas, instruídas, mas que no entanto e ironicamente são também ignorantes e rudes. Mais uma pergunta força a sua entrada neste texto:

De que serve então a instrução se não é capaz de dar vida às massas ignorantes?

Embora a instrução seja importante, outras necessidades se levantam. Precisam-se é de seres com força suficiente para convencer as massas. Precisam-se de palavras. De atitudes. É fundamental encontrar os meios para abater a resignação.

De que nos serve acreditar nas massas quando em nós próprios não acreditamos?

Foi essa interrogação pessoal que abateu Emerson – fê-lo não acreditar em si próprio – só isso pode ter sido o motivo para esta sua saída (de) infeliz. Nunca acreditou na sua força como segmento duma força maior à espera de um propulsor que ainda não foi encontrado. E esse seu grave problema, é apenas o símbolo-escrito dos problemas que assolam os homens instruídos e resignados que apesar da sua instrução e consequente opinião não conseguem provar que a instrução é o único caminho capaz de dar um sentido plausível e adequado às massas rudes e ignorantes. E se isso acontece, a razão é simples e perniciosa: é porque a instrução pela qual apregoam como fanáticos religiosos cheios de preconceitos, de nada serve, até conseguirem uma prova que contrarie esta minha última rude e ignorante afirmação.

Entretanto, mais uma pergunta se impõe:

Qual a demagogia que se adequa mais àquilo que verdadeiramente se procura, a minha de rude-ignorante que quer acreditar na força das massas em vez de as iludir, ou a de Emerson e de todos os outros semelhantes instruídos-resignados, que não são mais que rodas de comboio-social-fantasma?...

E agora, para concluir, deixo mais uma citação deste surpreendente ensaísta e poeta norte-americano:

“Entregar-se de corpo e alma; lutar por um mundo melhor, um pequeno jardim, ou uma condição social justa; ter brincado e gargalhado com entusiasmo e cantado com fervor; saber que alguém respira mais aliviado por você estar vivo; isso é ter vencido.”

Concluindo de vez, uma coisa é certa: apesar de não ter acreditado e ter visto as massas à sua imagem, foi sem dúvida alguma um homem de palavras bonitas.

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