sábado, agosto 25

A MINHA RUA

Extorquia igual miúdo enquanto sorria demencialmente
Era desde cedo filho das ruas da urbe
Argolas nas orelhas e boné para marcar atitude
Peito feito e inchado pelo medo que queria rejeitar
Seu pai borrachola e violento por acréscimo
Era homem rijo dos velhos tempos
Bigode e linhas pesadas davam-lhe forma à face
Sua mãe submissa e trabalhadora era uma verosímil senhora
Aos seis era uma cria citadina em crescente
Não havia mãos para o segurarem
Era liberdade posta e justa pela velocidade de tudo
Viu de tudo fez de igual
Moldou-se às necessidades da selva

Cresceu ao ritmo imposto e compreendido por si.

O carro rufa pelas concavidades das suas ruas apodrecidas
Seu motor violento sincroniza-se com a vontade
Os movimentos acentuam-se na cor que dão à noite
Por animais sem consciência do que fazem
Como verdadeiros que agem no seu prol egoísta e natural

O artifício já não é contrário natural
É o mesmo o único
É o desenrolar do que vive

O medo é o contrário reflexo
Fecha os olhos com olhos abertos
Ao que transforma a situação

Age perante o que tem.

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