quinta-feira, fevereiro 21

ART BLAKEY & JAZZ MESSENGERS- ARE YOU REAL?



Por vezes, esta pergunta banal impõe-se,
palavras para quê?

segunda-feira, fevereiro 18

A ESSÊNCIA DO HOMEM

Perguntar pelo Infinito
É resposta nas Palavras
É a criação de um mito
O ordenar da desordem

É ir e vir

O Homem é um pêndulo de arroz
Na panela que é Cosmos

Vai e vem!

Responder pelo Infinito
É perguntar nas Palavras
É ordenar de um mito
A criação da desordem

Tic-tac!

O Homem é um ponteiro
No relógio que define o Tempo

Tac-tic…

É a carne apodrecida
No corpo em corrente



O Homem é uma esponja
Na matéria da sua vontade

Zás e traz…

É o veículo Inocente
Na carne que o faz

Traz e zás!

O Homem é uma cobra
Na pele da hereditariedade

Zig zag!

É esquivo da Memória
No sonho da Perfeição efémera

Zag zig…

É o Homem uma árvore
Nas raízes da saudade
Contrariado pela mão

Acção!


Ping-pong!

É a bola lá e cá
Na mesa da Contradição

Pong-Ping…

É o Homem o ridículo
No circo da sua abstracção

Ri e chora…

É o Homem uma Lágrima
Na face da desilusão

Chora e ri!

É um rasgo de Alegria
No pano da Admiração.

Vai e vem
Vem vai…

E Traz e zás!
Zás traz!

E Tic e tac!
Tac tic!

E zig e zag!
Zag zig!

E ping e pong!
Pong-ping!

E ri e chora…
E chora E RI!

É o Homem um Homem



É balança em Equilíbrio
Nos pesos
Consolação!

quarta-feira, fevereiro 13

"THE BIG SLEEP"

Anda por aí muita gente a rir-se dos ingleses que, segundo um estudo agora divulgado, acreditam que Sherlock Holmes, Robin dos Bosques e Os Três Mosqueteiros são seres reais e Churchill uma personagem de ficção. Ora basta ler jornais e ver TV para verificarmos que os portugueses não são menos crédulos que os ingleses. Uma assustadora percentagem de portugueses acredita, por exemplo, que Mário Lino existe e é ministro das Obras Públicas e, tendo adormecido durante a projecção do filme que passa no país há dois anos, julga que Maria de Lurdes Rodrigues, Teixeira dos Santos ou Manuel Pinho são de carne e osso e não alucinações que, como o Freddy Kruger de "Pesadelo em Elm Street", personificam os seus piores medos. Coleridge observa que, de dia, as imagens geram sentimentos ao passo que, durante o sono, são os sentimentos que geram imagens. Assim, é natural que os medos dos professores (caos e desalento nas escolas, derrocada do sistema de ensino) suscitem neles a imagem "uncanny" de Maria de Lurdes Rodrigues e que essa imagem lhes pareça real. E do mesmo modo, nos outros casos, trabalhadores, empresários e cidadãos em geral. A solução é acordar e esfregar os olhos. O problema é que o filme tem uma banda sonora suave e embaladora, propícia à sonolência.

Manuel António Pina

Jornal de Notícias do dia 12 de Fevereiro de 2008

AOS CAVALOS DA DEMOCRACIA

A democracia é a mãe destas nossas sociedades caprichosas. É a trama que vive da liberdade que não temos, tendo-a em absoluto. A democracia é liberdade, a liberdade é rédea solta, a rédea é o que se dá a um cavalo quando a sua selvajaria é total e a sua condição assim exige. Imagino assim certos democratas em campo aberto, a correram furiosamente e a seu bel-prazer sobre chão que sempre foi seu, desde os primórdios da existência democrática. Não especifico democratas como partidários políticos, mas sim como praticantes da democracia. Assim como não diferencio as diversas raças de cavalo existentes. Aqui generalizo apenas.
Sendo eu filho da democracia e consequentemente da liberdade, imagino-me um dia destes a montar um democrata que não é mais que um cavalo – desgraçados dos cavalos, equipará-los a um democrata deve ser aborrecido, mas como nunca conheci um cavalo que tivesse aprendido a leitura, sinto-me livre de abusar de tal ignorância - , a puxar rédea e a gritar alto e a bom som “anda lá democrata, eu quero posso e mando, por ali que se faz tarde!” e o pobre desgraçado que é, a prosseguir comigo em peso sobre o seu costado cansado de tanta correria! Aí sim! Diria que a democracia é liberdade, e que o peso e medida não seriam abuso da liberdade que posso ter na sociedade democrática em que vivo. Adiante. O abuso é feio, e os cavalos andam a abusar! Como tal, seria homem para fazê-los correr até ao fim do mundo, o local vertiginoso em que detritos da terra caiem como água numa catarata de poeiras temporais. Levá-los-ia lá, ou melhor eles levar-me-iam, só para constatarem que idílica imagem era digna de ser vista pelos seus próprios olhos de cavalo com palas. Depois fazia-o voltar atrás, e certamente que ele correria para lá da sua ignorância e eu que remédio que teria que vir atrás. De regresso ao ponto de partida a sua orientada fugida determinaria a sua morte. “Ritmo assustado foi a causa da morte.” Diria concisamente o veterinário depois da autópsia. Nada triste regressaria ao estábulo, por lá escolheria outro democrata, e de lá correria outra vez até ao fim do mundo. Pensava para mim antes de puxar a rédea “mais um que vai morrer, mas que gosto isto me dá!”. Aquela viagem dar-me-ia tanto gosto e espaço para a contemplação, que um dia, depois de dias e dias de óbitos e viagens de ida e volta até ao fim do mundo, acabaria por encontrar o estábulo vazio de democratas. Tal vazio espacial assolar-me-ia de dúvidas, não teriam sido essas viagens abuso da liberdade que me deram? Ou foram somente actos ajustados à democracia que me deram? O dar seria o verbo da minha consumação. O que me tinham dado durante anos era um conceito de democracia deturpada pelo tempo que se desfazia para lá das minhas mãos, e as minhas, tinham sido a razão de todas as mortes.

ENTRE PÁGINAS

Abro o livro que te ampara
Não és personagem
És entre páginas a recordação que me deste
Naquele dia longínquo de Inverno

Nunca te ouvi,
Guardo de ti aquela folha
Aquela tua caligrafia sobre papel pardo
Daquele dia,
O dia em que passaste e não te vi
Do outro lado da rua do meu contentamento
Que não foi maior porque não quiseste

Maravilho-me com o teu cheiro no passar do tempo
O aroma deturpado pelo calor das páginas

Imagino-te, naquela manhã
Sorridente e perfumada como hoje que te toco
Folha de papel que tantas vezes evoco
Na ânsia do sonho que desejo diariamente.

domingo, fevereiro 10

O PÉ

Bato o pé
Cresce poema
Memória do tempo
Que se faz crescente,
Dou um passo
Cresce o poema
Ritmo compassado
Passeio lento:
Troco o passo
Cresce um poema
Viagem pelo pé
Velocidade gema.