terça-feira, junho 17

LOCURTINO DE ABISSAL

O conhecimento é nulo. É uma denominação para algo que não sabemos nem nunca soubemos usar. Nunca soube o seu ritmo. Nunca tomou conhecimento de que o relógio e a sua invenção foram o maior crime alguma vez cometido no universo a que chamamos de história. Um relógio nunca pára. E o conhecimento, ou melhor, o conceito de tal suposição determinada, é um veículo incorpóreo devido à velocidade estonteante que o move. Locurtino de Abissal retratou isso muito bem nos seus escritos. Visto como um dos pais do Ambiguismo viu no mundo da sua época que chegou até hoje, demoradamente, o equilíbrio do caos, tema este bastante debatido pelo meio intelectual que cresceu como um monstro no palaciano passar do tempo. Já na sua época achava que o afastamento entre os homens que tinha como ponto de origem o surgimento daquilo a que se chamava de conhecimento -que a meu ver e tendo em conta evolução se pode determinar mais concisamente como proto-conhecimento-, já previa a marginalização tirana perante o colectivo, achava que um dia a inteligência seria tomada como um forma de divindade capaz de controlar o mundo, real ou irreal. No manuscrito “O mundo e o Conhecimento” faz uma crítica muito seca à classe que se estruturava já na sua contemporaneidade

«Estes homens que crescem, exímios na procura dum sentido para a vida, acham que são mais que os outros, que através da sua alfabetização irão encontrar um espaço vivencial que lhe embalará os filhos e os filhos por sua vez acharão o mesmo. Acham que aprender nas devidas instituições de ensino é o caminho para o mundo repleto de fantasias, e que todos aqueles que se recusam a ir por esse caminho são autênticos e reprováveis animais. Argumentam que no futuro quem não tiver como bases todas as suas descobertas maravilhosas no campo de filosofia, todas estas promessas abstractas que sinceramente e naturalmente não consigo perceber, não vive no mundo com o qual sonharam, o local onde o conhecimento é simbiose para com o meio terrestre em que caminham. Declaram guerra cerrada ao instinto. Veneram Coferti O Mago e vêem nele e na batalha da Antiga Antiguidade o exemplo máximo e o caminho para a intemporalidade. Apoiam-se no texto “O Intelectualismo” desse mesmo guerreiro que entre outras coisas e para não dar muita importância, defende que «Os homens determinam-se pela classe de inteligência» e que «Os Aliortes ao se recusarem a aprender, não sabem que o mundo tem muito para lhes dar para além do medo.» A partir destas máximas tudo para eles faz então mais sentido. Acham que o medo de saber não se justifica, tudo se torna claro cada vez mais claro, só não sabem que a cegueira leva à prisão do espírito. Se acreditasse neste nosso deus diria que era um feliz contemplado, um adormecido intelectual iluminado pela sua espada que abre espaço para o pensamento na mata densa e selvagem. Sou um egoísta por não acreditar, por perceber que não sou mais que os Aliortes, que agora mesmo enquanto escrevo olho pela janela e vejo o mundo como eles, sem nenhuma análise ou tentativa de compreensão, que isto a que chamamos de conhecimento é uma farsa criada por alguém, um embuste que nos trama e engole no mato, nos escaparates da nossa compreensão que nada vê e nada consegue perceber só porque nada há para perceber. Sinto-me um inútil, repartido no campo de batalha, retalhado por esta compreensão que de nada me serve. Vejo todo este bando alfabetizado a criar caminhos, a dividir o mundo, a criar soluções que são problemas, só porque mais logo tem que ir mais fundo e quanto mais rápido compreenderem melhor. Agora até há quem pense que os problemas são a solução, que se existem só tem que ser ultrapassados, como se fosse tão linear e instantâneo. Agem por bem nas suas mentes sem compreenderem o que é isso de agir e quais são as suas causas e consequentemente os seus efeitos. No caso de Liberpol Colinope -que morreu há bem pouco tempo, depois de se fechar em casa e procurar a chave para a compreensão durante muitos anos – “o homem inteligente que um dia quiser e achar depois de muito cálculo cerebral que as origens do homem deveriam ser imutáveis, não percebe que o conhecimento é um novo mundo, um meio que permite chegar à divindade pessoal.” Nos seus estudos notáveis e aprofundados da vida e convicções d’O Mago concluiu entrelinhas que quando o meio não se revelar favorável à origem e às razões da batalha da Antiga Antiguidade, nem tudo está perdido, somente porque a compreensão servirá para acalmar o espírito duma forma egoísta que o inflamará como madeira seca. Como é belo este bando de senhores que possuem a razão. Talvez um dia se dividam e batalhem entre si, como um dia os nossos ancestrais se dividiram. Talvez surja num futuro indeterminado um apologista contra o Intelectualismo, um filho desiludido com a herança que o sangue lhe deixou, um desiludido como eu, contra todo este mundo que é cada vez mais nosso sem que eu o queira para mim.»

Abissal encontrou pela simples observação o destino da evolução do homem. Defendia que a divisão entre os homens não era mais do que uma necessidade de afirmação e justaposição perante o abismo e a sede de conhecimento. A razão de batalha ganha por Coferti era muito linear e não tão complexa como achavam e mistificavam os pueris pensadores da sua época.

«A inflamação do ego, e as suas necessidades despertas pelo medo de acabar, levaram O Mago a iniciar uma chacina perante um adversário que muito bem conhecia não fosse ele sangue do próprio sangue. Tinha vergonha do seu passado. Se ele tinha conseguido a aprender a escrever e a compreender o mundo porquê que os seus conterrâneos não compreendiam? O seu professor -agora que já temos denominação para tal – baralhou-lhe o cérebro. Se ele compreendia, porque razão lhe tinha dito que o homem não é todo igual e nem sempre assimila o conhecimento? Fazia-lhe bastante confusão ter que estar fechado o dia todo e ficar proibido de partilhar com alguém tudo aquilo que sabia, se ele percebia o mundo, todos os outros também. Durante muito tempo, até à data da morte do seu amo, ansiou o mundo. A enclausura e identificação com as origens que o acaso lhe tinha roubado tornou-o num ser curioso desejoso por saber que um dia iria ver o mundo e iria modificá-lo como assim teria que ser. Não sabia se haveria de sorrir como um louco ou chorar como um tolo quando a morte lhe trouxe a liberdade de agir segundo os ensinamentos adquiridos.»

Nesta passagem determinou-se o espectro do ambiguismo. A morte como elemento chave leva Coferti a questionar muito instintivamente qual o caminho a seguir, e a encarar o ensino e consequente compreensão, como um enigma nunca desmascarado pelo seu professor. Apesar de todo ódio aos estudiosos do seu tempo devido ao fanatismo pelo guerreiro, Abissal vê nele a origem para o confronto que se revelou e cresceu até hoje. A curiosidade é para ele a fonte de todos os problemas.

«Quando nos defrontamos com um problema o conhecimento leva-nos a tentar resolvê-lo, mas no entanto, põe seriamente de lado a hipótese de erro, sendo assim, apenas o contornamos.»

Este pensador filho nato do conhecimento que tanto o mutilou e acabou por levar ao suicídio numa época infindável que não consigo descobrir, compreendeu o mundo como meio e o homem como finalidade para ele mesmo. Os seus pensamentos filosóficos que descobri por obra do acaso dentro dum invólucro de pedra no oceano, levam-me a crer que a evolução do homem começou com a contagem decrescente e acelerada do mundo.

«O Mago descobriu a terra e tratou de germinar o conhecimento. Todos os homens que o conheceram e tinham predisposição para a aprendizagem seguiram os seus ensinamentos e criaram outros ensinamentos e outros caminhos e outras soluções e outros problemas. Outros matavam a seu mando para possuir tudo aquilo que queria possuir e saciar-se assim de todos os anos de proibição e abstinência de acção. A partir do momento em que saiu da sua prisão contra vontade do seu falecido professor, ele os homens e o mundo nunca mais foram o mesmo. Tudo porque guardou em segredo a enigmática proibição do seu pai que tantas vezes depois de algumas desilusões lhe ressurgia na cabeça “Os seres não são todos iguais e o conhecimento nunca deve ser transmitido para lá de ti sem que o sintas sem medo. Vivi muitos anos meu filho, nunca tive pressa, a minha longevidade leva-me a crer que o conhecimento é demasiado perigoso, daí passar-te este meu testemunho esperançoso. Não durarei o suficiente para compreender os homens e o mundo, quero que me jures que nunca o transmitirás a ninguém quando morrer. Já não falta muito. Espero que não, mas acho que me vou arrepender de te ter ensinado tudo isto, és muito jovem para ser ensinado, ainda não pensas como um homem sábio, és apenas uma criança aos pés da verdade. Quando saíres daquela porta e encontrares homens curiosos, mais, ou menos desenvolvidos do que eu e que tu, diz-lhes que tudo não passa ainda duma errónea solução, que o conhecimento é a pior arma alguma vez criada.” Não contava a ninguém este desabafo do seu percursor, a vergonha matá-lo-ia apressadamente. E eu muito menos demonstro esta faceta deste deus dos pensadores e apologistas adormecidos do intelectualismo de Colinope, que seguindo a sua sugestiva suposição “um dia irá vingar contra qualquer tempestade causada pelo erro que poderá sempre ser corrigido ou tolerado com mais ou menos afinco.” Tenho vergonha do conhecimento que possuo, tenho um medo mais do que justificado de abrir mais uma porta para o abismo, algo passível de ser analisado e tomado como uma verdade absoluta sem que o seja.»

As suas palavras não enganam e não poderiam fazer mais sentido do que hoje em dia.

«Nichos de intelectuais povoarão o mundo em pingas e dirão que as suas bases são a solução para tudo, mesmo que na prática isso não aconteça. Desiludidos seguirão a via da divinização do conhecimento, uma idolatria que levará a um sentimento recalcado e dividido. Para alguns a inércia será a força central, sentir-se-ão deuses da compreensão, viverão cheios de ideais de mudança e inconformismo nas suas cabeças. Verão nas massas instruídas a culpa para todos os cataclismos somente porque não atingiram a supremacia da errónea e injustificada intelectualidade. Outros dirão que o mundo está perdido e povoarão outro que só existirá na sua loucura. A arrogância e o orgulho separará os intelectuais dos outros ditos selvagens como deveria ter acontecido na batalha da Antiga Antiguidade. Será tarde entretanto, o conhecimento já acelerou para lá da naturalidade fundamental, os homens nunca perceberão que o conhecimento não pode ser fruto dos caprichos.»

Este homem deitou por terra todos os instruídos anteriores e posteriores a si. Mas no entanto não deitou por terra toda a esperança.

«Talvez num futuro surja mesmo um homem contra o intelectualismo, nunca profeta nem salvador, mas sim capaz de derrotar todas as bolhas de conhecimento. Um homem que diga que o intelectualismo é um capricho hipócrita que teve como base o conhecimento e compreensão que tanto o delicia e aniquila. Mesmo que tarde, fará então perceber ao mundo que a ambiguidade da natureza não nos permite afastarmo-nos dela e criarmos uma nossa igualmente dúbia. O Conhecimento existe mas engana-nos, ilude-nos ao ponto de nos acharmos inteligentes.»

Locurtino de Abissal deixou antes de morrer um último desabafo

«Porque tendemos a complicar tudo, a seguir os trilhos do conhecimento intrincado? É tudo tão simples e fácil de perceber, somos todos animais e não mais que todos os outros. Para quê tanta curiosidade? Às portas da morte tudo é claro e só agora que me proponho a ela percebo o porquê de querer acabar com todo este enigma



Quando o homem na sua infância colectiva
Abriu campo para os dissidentes
Para os percursores da inteligência que geminou
Semente tortuosa por florescer
Metamorfose do espírito agora individualista
Em busca do desconhecido criado por si

Formou-se o confronto interno da humanidade
Cerrados orgulhos na disputa

-

O dissidente
Olhado de lado
E o seu opositor
Do lado vazio

O evolucionista
E o imobilista

- Quanto mais me contrarias menos mudo…

- Não pode ser!

O que deu o passo até hoje
Até à escrita que deu outro

:

O que teve medo
Na permanência do instinto

:

Não se precisa quando

.

Num dia em que ainda não se escrevia
Um conflito partiu até este momento

,

A contemporaneidade permanece igual a sempre
Desde aquele abstracto dia de medo em que alguém falou mais alto

- Não! Não pode ser!

No local em que tudo mudou
Um silêncio
Fracção milésima para o confronto
Bifurcação ambígua dos seres
Uma resposta para o mundo em que vivemos
Cheio de tudo nos dois pratos da balança

...

A curiosidade cresceu

Abriu caminhos

O mutualismo por identificação
Abriu uma bifurcação da bifurcação

Confronto
Derrota

Confronto
Vitória

Tudo desde o ponto de conflito
Desde o infinito que não futuro

.

- Estou errado… Errei. Quem sou. De que lado estou?»

PALMAS PALMINHAS

Palmas

Muitas palmas
Um coro de palmas
As mãos bem ocupadas

Sim
Bravo!

As palmas
As palavras
Palmas para as palavras!

Um eco exponencial
De palmas

Muitas palmas

Para o artista
Para as palavras

Mais!

Mais palmas
Mais palavras
Mais sins
Mais bravos
Mais do mesmo!

Bis!

Palmas

Muitas palmas
Um coro de palmas
As mãos bem ocupadas
As palmas das mãos
Como suporte sonoro

O eco a corroer o espaço
O espaço das palmas
O espaço das palavras

Muitas mãos a dizerem que sim
Muitos bravos a viveram das palmas
E as palavras a morrerem insignificantes

Mais!

Mais palmas
Mais palavras
Mais sins
Mais bravos
Mais do mesmo!

E as palavras a morrerem insignificantes.

Bravo
Muitos bravos!

Muitas palmas para tudo isto!

(0)

A essência é
Lixo concentrado
Local donde jorram
As águas poluídas
Afluentes dos tempos
Os diversos tempos
Cristalizados na História

A essência é
Gruta dos seres
Local sombrio inóspito
Que nos escorre pelas mãos
Água preta e pastosa
Personificação do vulto
Que nos move.

A essência não é
Magia encantada
Pureza no corpo

É conformação
Espelho que reflecte
A embriagante imagem
Que conspurca os gestos

A essência queimou
É mero carvão que sobra
Duma fogueira que já não arde

domingo, junho 15

SALDO







À venda o que os judeus não venderam, o que a nobreza e crime não gozaram, o que o amor maldito e a probidade infernal das massas ignoraram; o que nem tempo nem ciência têm que reconhecer:

As Vozes reconstituídas; o despertar fraterno de todas as energias corais e orquestrais e suas aplicações instantâneas; a ocasião, única, de distender os sentidos!

À venda os corpos sem preço, sem distinção de raça, mundo, sexo, descendência! A riqueza irrompe em cada lote! Saldo de diamantes sem controlo!

À venda a anarquia para as massas; a satisfação irreprimível para os amadores superiores; a morte atroz para os fieis e para os amantes!

À venda as casas e as migrações, os sports, as maravilhas e os comforts perfeitos, e o ruído, o movimento e o futuro que fazem!

À venda as aplicações de cálculo e os saltos de harmonia inauditos. Regras e achados nunca suspeitados, entrega imediata.

Ímpeto infinito e insensato de esplendores invisíveis, de delícias insensíveis, e seus segredos enlouquecedores para cada vício, e a sua aterradora alegria para a multidão.

À venda os corpos, as vozes, a imensa opulência inquestionable, o que nunca será vendido! Ainda temos de tudo! Os viajantes não têm que entregar já as suas comissões.


Rimbaud

DEMOCRACIA















«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.

«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. Massacraremos as revoltas lógicas.

«Às terras aromáticas e dóceis! - ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.

«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz, inaptos para a ciência, esgotados para o conforto, e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»


Rimbaud

quarta-feira, junho 11

SÓ TENS QUE, APENAS ISSO E NUNCA O QUE TENS

Só porque não te mexeste
Perdi toda a esperança
Aguardei frio e chorei

O grito da revolta que nos faz implodir

Só porque nada fizeste
E nada fazes só
Perdi o brilho nos olhos

Só porque não constróis nunca
E nem acompanhado
Perdi a força no âmago

Só porque sou só
E construo contigo
Ganhei uma vida

Só porque desisti de ti
Somente para acreditar em mim
E consequentemente acreditar em ti

Escrevo e contagio o descontentamento

E só depois de desistir de mim
E acreditar em ti que não acreditas

Vi a nossa morte e a ti ta dou
À luta na espera de te sentires vivo

Vi a morte e a ti te entrego
Toda esperança que não tens
Toda a luta que fervilha em ti
Todo o descontentamento a emergir

Vi a morte e não a vejo portanto

Mas tu crês nela e não percebes
Que a morte que te entrego
É a vida que tens para entregar

Só porque desisti de ti
Somente para acreditar em mim
E consequentemente acreditar em ti

Escrevo e contagio o descontentamento
À luta na espera de te sentires vivo
Ao grito de revolta que nos faz implodir

Só tens que morrer
Que te entregar à morte
Ao que te move nela

Entregar tudo o que tens

Os teus infames gestos inúteis
Os teus sonâmbulos requintes

Só tens que morrer
Como eu morro todos os dias
Morto para tudo mas desejoso de viver

Entregar tudo o que tens

Os teus infames gestos inúteis
Os teus sonâmbulos requintes

Só tens que viver
Como eu vivo todos os dias

Vivo para tudo mas desejoso de morrer

Só porque desisti de ti
Somente para acreditar em mim
E consequentemente acreditar em ti

Só tens que

Apenas isso
E nunca o que tens

Não desistas nunca mais

Só porque há muito que desistes
Só porque aceitas e vives
Só porque te arrastas e sentes vivo
Só porque vives sem nunca saber o que isso é.

Estás vazio

Apenas isso
E nunca o que sentes

Andas iludido

Apenas isso
É o que te move

É o que me dás a acreditar
Em nada
Porque ages no nada

É assim que acredito em mim
Em nada porque és nada

Demonstras-te vazio

Apenas isso
E nunca o que és

Foges e escondes-te

Só porque há muito que desistes
Só porque aceitas e vives
Só porque te arrastas e sentes vivo
Só porque vives sem nunca saber o que isso é.

Falas-me e eu respondo

Mas nada me dizes
Mas nada fazemos
E nada te digo
E nada fazemos

Só porque desisti de ti
Somente para acreditar em mim
E hipoteticamente acreditar em ti

Só porque desisti de mim
Somente para acreditar em ti
E hipoteticamente acreditar em mim

Mas eu acredito em ti
E quero que tu acredites em mim

Quero que vejamos o que há para crer

E tu acreditas em mim
E queres que eu acredite em ti
E eu que creio nas palavras
Muito para além da imobilidade

Eu que creio na mudança
Muito para além do espírito

Eu que creio no espírito para a mudança

Insurjo-te para viver como nunca viveste
A estrumares o que de ti arde insuportável

Insurjo-te para cuspires nos teus hábitos
Para extenuá-los até ao seu verdadeiro valor


















Mas nada me dizes
Mas nada fazemos
E nada te digo
E nada fazemos

Só porque há muito que desistes
Só porque aceitas e vives
Só porque te arrastas e sentes vivo
Só porque vives sem nunca saber o que isso é
Só porque nem eu sei o que isso é…