Perdido nas nuvens da sua imaginação
Encontra-se o poeta
À procura duma arvore enraizada
Que dê forma ao que não pode ter de concreto
Alimenta-se de sonhos, ao almoço e ao jantar
Esperando que o fruto caia dum ramo instituído por si
Desenha com a sua caixa de fantasia cada linha que o define
Na ambição de encontrar o galho do sossego
Espera para cá e para lá que o fruto amadureça
O processo pávido de se sentir transcendental
Na sua mão aberta um espaço receptivo
Uma liberdade de fechá-la quando quer
No seu coração uma metáfora
O mito do compasso cardíaco que o rege
Enterra-se cada vez mais na terra humedecida
Por lágrimas suas que são as de todos
Aqueles que se quedam da essência de estar vivo
Minuciosidade ardente inflama-lhe o peito
Um fogo que arde na chama de um nome
Ateado pelo cantar melódico
Dá azo a devaneios devastadores
Criando cinzas duma alegria que vem da tristeza
Fazendo-lhe crescer flores pela boca
Flores de lótus dum tempo que se encontra em si
A morte, a alegria e o respirar
São bases para as suas palavras imutáveis
São elementos essenciais para o seu jardim
Selvagem não restritivo não amestrado
No seu corpo a lei do mais fraco rege a luta pela vida
As alegrias floridas ferram as tristezas
E o contrário é metamorfose dos sentidos
Não há um caminho delimitado
Apenas um norte desnorteado e perdido
Que lhe dá a direcção incerta do que é quer ser
A bússola em que se apoia não tem chão que o segure
Porque o chão é um limite inferior insuficiente
Vive no céu abaixo do piso que lhe dá forma física
Ansiando o fragmento de dia que lhe dê ânimo
Os seus passos são confusos e levianos
Como se de bicos de pés conseguisse ver algo mais
Esgueira-se sobre o seu corpo na procura daquilo que não lhe dão
Estica-se ao máximo para dar para fora a alegria que lhe negam
A alegria de compreender o justo divinal
Senta-se só feliz de ser na cadeira equilibrada pelos seus pés
Reavivando o entorpecido pelos voos do quotidiano
É o que corre dum lado para o outro
Qual barata tonta dum buraco húmido escurecido
Amealhando as percepções expelidas pela sustentabilidade de ver
Na amplitude da dor que se pode esconder.
terça-feira, novembro 20
A VIDA
Ser é o acto custoso
A fuga no encontro do sentido
À procura do lugar em mim
Ser é não ser
É ser não sendo o que se é
É regressar à essência do corpo
Ser é negar o que quer que sejamos
É libertar o ser que há em nós
Das amarras que somos consequência
Ser é limpar o pátio da alma
Com água limpa que repousa
Nas profundas concavidades da impessoalidade
Ser é unir
Colagem de penas que se perderam
No tempo que nos faz assim depenados
No ser está vida
Não ser é viver.
A fuga no encontro do sentido
À procura do lugar em mim
Ser é não ser
É ser não sendo o que se é
É regressar à essência do corpo
Ser é negar o que quer que sejamos
É libertar o ser que há em nós
Das amarras que somos consequência
Ser é limpar o pátio da alma
Com água limpa que repousa
Nas profundas concavidades da impessoalidade
Ser é unir
Colagem de penas que se perderam
No tempo que nos faz assim depenados
No ser está vida
Não ser é viver.
A ANOREXIA DE MARIA
Está uma noite fria entre os blocos sarapintados a luz,
Pequenas gotas caiem como tempo pelo tempo
Folhas que se dispersam pelo chão do Outono;
As pessoas encolhem-se recostadas nas corridas dos seus cães
Que não vêem nada para além da sua vontade viva.
É a noite da minha nostalgia
Das lembranças de ti que foste e vais caindo
Como as folhas das árvores cada vez mais despidas;
Todo o teu fulgor nos meus braços é fulgor na minha mente
Toda a tua alegria de olhar o é no meu
É fonte que jorra hoje no jardim do vento que vem e vai
E a tristeza é transformação
É a alegria de te saber como foste no meu corpo
Que se tornou em dor de te saber caindo no teu próprio corpo que mirra.
Como me dói ter-te longe e ver-te como as árvores esqueleto que contemplo
Isoladas da beleza de outras estações que hão-de vir como ciclos
E para isso, ciclo que quero ser, hei-de voltar para te puxar
Para te cobrir de folhas e voltares à beleza da vida que não existiria sem ti
O choro humedece-me a lembrança
Fico só no jardim da memória
Assobio e o meu canídeo volta
Feliz e estafado pelo esforço alegre,
Choro e continuo a chorar
Não consigo aceitar a dificuldade de te ouvir longe
Presa numa prisão em que a chaves estão no bolso da minha desilusão,
Seria bom assobiar e ter-te feliz e desperta a meu lado
Abraçar-te e sentir a tua carne
E não o esqueleto que te ilude no espelho longínquo
Pequenas gotas caiem como tempo pelo tempo
Folhas que se dispersam pelo chão do Outono;
As pessoas encolhem-se recostadas nas corridas dos seus cães
Que não vêem nada para além da sua vontade viva.
É a noite da minha nostalgia
Das lembranças de ti que foste e vais caindo
Como as folhas das árvores cada vez mais despidas;
Todo o teu fulgor nos meus braços é fulgor na minha mente
Toda a tua alegria de olhar o é no meu
É fonte que jorra hoje no jardim do vento que vem e vai
E a tristeza é transformação
É a alegria de te saber como foste no meu corpo
Que se tornou em dor de te saber caindo no teu próprio corpo que mirra.
Como me dói ter-te longe e ver-te como as árvores esqueleto que contemplo
Isoladas da beleza de outras estações que hão-de vir como ciclos
E para isso, ciclo que quero ser, hei-de voltar para te puxar
Para te cobrir de folhas e voltares à beleza da vida que não existiria sem ti
O choro humedece-me a lembrança
Fico só no jardim da memória
Assobio e o meu canídeo volta
Feliz e estafado pelo esforço alegre,
Choro e continuo a chorar
Não consigo aceitar a dificuldade de te ouvir longe
Presa numa prisão em que a chaves estão no bolso da minha desilusão,
Seria bom assobiar e ter-te feliz e desperta a meu lado
Abraçar-te e sentir a tua carne
E não o esqueleto que te ilude no espelho longínquo
domingo, novembro 11
HINO ÀS CRIANÇAS
Comecei bem cedo nessas lides de ser homem
Mais tarde do que muitos mas a tempo de.
Comecei a correr tinha os meus dezasseis anos
E nunca a corrida me soube tão bem
Era o início, e como quase todos os inícios
Algo de misterioso por descobrir surgiu no horizonte;
Comecei por ver as pessoas à procura da sua compreensão
A que afinal, era minha para com todos os que me acompanhavam
Desde o berço que tudo se conjugava, embora confusamente
Qual emaranhado de desabafos de quem obrigado se vê a pagar um preço
O preço de ter nascido no auge dos tempos da livre concorrência à sobrevivência
Vi ódios companheirismos ouvi lamúrias cantares da abstracção
Recebi testemunhos à passagem da estafeta nos momentos em que a experiência Reformula a experiência
«Entretanto a pista é bem larga
Mas não há lugares para todos os corredores»
Vi também combatentes no próprio corpo
Aleijados pelo tempo das máquinas homónimas
Pessoas levadas pelo vento ciclónico sem fuga possível
Apercebi-me do desespero...
No princípio a inocência não me permitia aprofundar à realidade
Até que no vazio do vento me deparei
Objecto atingido pela banalidade do fatalismo deduzido;
Aí, outra percepção falou mais alto, mais uma experiência
O homem é vítima da sua própria puerilidade
Acidentado senhor da inocência que não se perdeu na infância
Assassino de si próprio como criança que não sabe o fazer à complexidade que lhe foi entregue por outras que o foram e são
«Pobres crianças, o que fazer com as crianças?»
Talvez atirá-las ao poço fazê-las suportar a carga
Embrutecê-las com promessas de sonhos a concretizar
Adoçar-lhes a boca com rebuçados de petróleo
Limpar-lhes o rabo com lixas de pedra
Afagar-lhes o cabelo com uma nota graúda.
Somos então todos crianças no parque do sofrimento
Em cima de baloiços balancés escorregas
Que saltam que vibram que choram quando caem
Que riem quando a realidade lhes ri
Somos então todos homens na sociedade do sofrimento
Em cima de carros de motos de pontes de prédios
Que saltam que vibram que choram quando compreendem
Que sorriem quando a realidade lhes sorri
Somos crianças invejosas que partilham o doce como acto de ignorância assumida.
Mais tarde do que muitos mas a tempo de.
Comecei a correr tinha os meus dezasseis anos
E nunca a corrida me soube tão bem
Era o início, e como quase todos os inícios
Algo de misterioso por descobrir surgiu no horizonte;
Comecei por ver as pessoas à procura da sua compreensão
A que afinal, era minha para com todos os que me acompanhavam
Desde o berço que tudo se conjugava, embora confusamente
Qual emaranhado de desabafos de quem obrigado se vê a pagar um preço
O preço de ter nascido no auge dos tempos da livre concorrência à sobrevivência
Vi ódios companheirismos ouvi lamúrias cantares da abstracção
Recebi testemunhos à passagem da estafeta nos momentos em que a experiência Reformula a experiência
«Entretanto a pista é bem larga
Mas não há lugares para todos os corredores»
Vi também combatentes no próprio corpo
Aleijados pelo tempo das máquinas homónimas
Pessoas levadas pelo vento ciclónico sem fuga possível
Apercebi-me do desespero...
No princípio a inocência não me permitia aprofundar à realidade
Até que no vazio do vento me deparei
Objecto atingido pela banalidade do fatalismo deduzido;
Aí, outra percepção falou mais alto, mais uma experiência
O homem é vítima da sua própria puerilidade
Acidentado senhor da inocência que não se perdeu na infância
Assassino de si próprio como criança que não sabe o fazer à complexidade que lhe foi entregue por outras que o foram e são
«Pobres crianças, o que fazer com as crianças?»
Talvez atirá-las ao poço fazê-las suportar a carga
Embrutecê-las com promessas de sonhos a concretizar
Adoçar-lhes a boca com rebuçados de petróleo
Limpar-lhes o rabo com lixas de pedra
Afagar-lhes o cabelo com uma nota graúda.
Somos então todos crianças no parque do sofrimento
Em cima de baloiços balancés escorregas
Que saltam que vibram que choram quando caem
Que riem quando a realidade lhes ri
Somos então todos homens na sociedade do sofrimento
Em cima de carros de motos de pontes de prédios
Que saltam que vibram que choram quando compreendem
Que sorriem quando a realidade lhes sorri
Somos crianças invejosas que partilham o doce como acto de ignorância assumida.
A RESPEITO DO TRABALHO QUE JÁ NÃO TENHO - SORRIR OU CHORAR?
Cai num vazio que me irrita profundamente. A sua causa é a razão do desconforto que sinto. Mais uma vez encontro-me desempregado. Gostaria de poder não usar tal expressão, preferia de todo poder dizer desocupado, mas uma série de obrigações pessoais intrínsecas a quem tem coisas para pagar, obriga-me a suportar o peso de ser mais um desempregado. O emprego que tinha era no ramo da elevação hidráulica, área esta em que direcções descendentes e ascendentes faziam parte da execução em quase todo o processo até ao final, como em tudo na vida. Só que descender foi a minha última direcção, um rol de circunstâncias levaram a isto. Depois de muitas tentativas de elevação da dignidade fui empurrado pelas costas e cai de novo no chão que noutros tempos me trouxe mazelas. Sou hoje -como gosto eu da palavra hoje - , um homem supostamente livre e digno da sua existência, embora desolado por não poder contribuir para algo que pretendo abnegar absolutamente, sinto-me arrastado e perdido no rio turbulento que é estar morto, elemento entristecido da chamada população activa. Hoje – mais uma vez, a palavra que mais me fascina – esta sociedade que vive das várias áreas produtivas, é um espaço caótico e insuficiente para suportar pessoas como eu, que como todas, têm que ganhar o seu quinhão, o que é de todo assustador, já que a qualificação é cada vez maior e o interesse das estruturas empregadoras e governativas gigantesco -os interesses são muito básicos, aperfeiçoar cada vez mais as máquinas e esquecer que afinal já foram pessoas. É uma verdade dolorosa, isto dependendo do olhar de cada um de nós. Talvez se o meu emprego fosse empregar, mesmo que discordasse de tal robotização, ver-me-ia obrigado a concordar, não tivesse eu em casa contas para pagar! Qualquer coisa como, não concordo tendo em conta o que penso, mas concordo plenamente tendo em conta o que faço e me fazem precisar! E assim o jogo prossegue, a necessidade imposta é a necessidade fundamental substituta.
terça-feira, novembro 6
A GARAGEM EM CONSTRUÇÃO
Quando a poeira vibra melodicamente
Como lágrimas de nuvens em noite de Inverno soalheiro
A construção ganha contornos como nunca teve
Uma acalmia leve perdura no espaço
Uma imaginação faz fugir
Limpa a ambiência que varre a alma
Da ínfima possibilidade mágica
De sonhar com tudo o que é só por si
Como gotículas de chuva encantadora
O pó esbate-se no chão do esforço
Impingido pela necessidade vindoura
O pó é o canto do antro da sobrevivência
A abstracção do que me faz lá estar
Mesmo quando em devaneios
Da compreensão que unge a física
É a razão de estar vivo na filtrada obrigação
E quando no chão cai
O pó
Um nevoeiro levita harmonioso
Na luz electrificada da lâmpada engenhosa
Como parte de um todo poeirento
Repouso pó pelo chão
Inerte
Em observações carregadas de perspectiva
Na inferioridade visual de tudo contemplar
Tudo se confunde em belezas ofuscantes
Em detritos técnicos e emaranhados
Que esquecem a necessidade
Que também é fonte de beleza sofrida
Compreensão de sonhos firmes
Na ambiguidade de se ver
Dum lado e do outro da barricada
A etérea pedra separadora
Determina secamente
O nicho da alma que se adapta
Os seus pós esculpidos pelo tempo
São a razão do belo ao intercalar os lados do encontro
E da pedra vive o homem
Mesmo quando a separação se confunde
Nos momentos de harmonia contraditória
É simples
É a simplicidade que nos rege
É poético
É a poética que queremos
É dúbio
Como tudo o é
É mistério que se aceita
Diferença que marca o desejado pelo corpo
É maré raivosa
Com barco sôfrego a dois remos
É ânimo que não se perde nos actos
Vontade que não desiste
Da vida que se faz valer
Como criador da memória interpretativa;
E a poeira é assim elemento pávido
Do sonho bifurcado no vivido
Dose de satisfação agridoce
Que se aproxima do chão erosivo
Que nos faz e refaz.
Como lágrimas de nuvens em noite de Inverno soalheiro
A construção ganha contornos como nunca teve
Uma acalmia leve perdura no espaço
Uma imaginação faz fugir
Limpa a ambiência que varre a alma
Da ínfima possibilidade mágica
De sonhar com tudo o que é só por si
Como gotículas de chuva encantadora
O pó esbate-se no chão do esforço
Impingido pela necessidade vindoura
O pó é o canto do antro da sobrevivência
A abstracção do que me faz lá estar
Mesmo quando em devaneios
Da compreensão que unge a física
É a razão de estar vivo na filtrada obrigação
E quando no chão cai
O pó
Um nevoeiro levita harmonioso
Na luz electrificada da lâmpada engenhosa
Como parte de um todo poeirento
Repouso pó pelo chão
Inerte
Em observações carregadas de perspectiva
Na inferioridade visual de tudo contemplar
Tudo se confunde em belezas ofuscantes
Em detritos técnicos e emaranhados
Que esquecem a necessidade
Que também é fonte de beleza sofrida
Compreensão de sonhos firmes
Na ambiguidade de se ver
Dum lado e do outro da barricada
A etérea pedra separadora
Determina secamente
O nicho da alma que se adapta
Os seus pós esculpidos pelo tempo
São a razão do belo ao intercalar os lados do encontro
E da pedra vive o homem
Mesmo quando a separação se confunde
Nos momentos de harmonia contraditória
É simples
É a simplicidade que nos rege
É poético
É a poética que queremos
É dúbio
Como tudo o é
É mistério que se aceita
Diferença que marca o desejado pelo corpo
É maré raivosa
Com barco sôfrego a dois remos
É ânimo que não se perde nos actos
Vontade que não desiste
Da vida que se faz valer
Como criador da memória interpretativa;
E a poeira é assim elemento pávido
Do sonho bifurcado no vivido
Dose de satisfação agridoce
Que se aproxima do chão erosivo
Que nos faz e refaz.
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