domingo, julho 15

JARDIM DE RAÍZ




















"Jardim das delícias terrenas" Hieronymus Bosch, 1504


Silenciaste-te como resposta às minhas palavras. As minhas flores, em forma escrita perderam o cheiro doce da tinta, concêntricas letras sem sentido ordenado da vontade que me explana. Não pousaste sobre as suas minhas pétalas, rumaste para longe para um longe que não consigo decifrar. Senti-me só no silêncio das minhas palavras que flores não foram aquando do eco da tua melodia. Perdido, apenas perdido no eco que é o meu e não o desejado na primavera do meu ser que se quer expandir pela intemporalidade enternecedora. Repeti-me na ânsia de te ouvir, tentando com o meu pólen voar até ao teu nariz vazio pelo cheiro da minha constatação. Sorri para mim como se ao espelho me observasse como quem espera o reflexo daquilo que escreveu. Um sorriso doloroso rasgou-me a inferioridade da cara espelhada.
Senti-me bem na procura de ver a forma que é tua na cabeça sonhadora que vive o meu corpo. Um bem-estar doloroso forçado pela memória invadiu-me as entranhas, eras tu em mim, pávida como sempre, sobre este olhar introspectivo que me tolhe explanando-se. Todo um jardim na caixa em que me tornei, grandiosa o suficiente para me fazeres crer que a caixa que me molda é insuficiente para te conter.

Rejubilei num esvoaçar do que disse
Pousaste em mim tardiamente
Era já eu um ser disperso caído aos pés dum vazio que me varreu
Já não queria palavras apenas toques um abraço um beijo um respirar
Capaz de desenraizar a raiz que me estagnou.

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