terça-feira, novembro 20

O POETA EM MIM

Perdido nas nuvens da sua imaginação
Encontra-se o poeta
À procura duma arvore enraizada
Que dê forma ao que não pode ter de concreto
Alimenta-se de sonhos, ao almoço e ao jantar
Esperando que o fruto caia dum ramo instituído por si
Desenha com a sua caixa de fantasia cada linha que o define
Na ambição de encontrar o galho do sossego
Espera para cá e para lá que o fruto amadureça
O processo pávido de se sentir transcendental

Na sua mão aberta um espaço receptivo
Uma liberdade de fechá-la quando quer
No seu coração uma metáfora
O mito do compasso cardíaco que o rege

Enterra-se cada vez mais na terra humedecida
Por lágrimas suas que são as de todos
Aqueles que se quedam da essência de estar vivo

Minuciosidade ardente inflama-lhe o peito
Um fogo que arde na chama de um nome
Ateado pelo cantar melódico

Dá azo a devaneios devastadores
Criando cinzas duma alegria que vem da tristeza
Fazendo-lhe crescer flores pela boca
Flores de lótus dum tempo que se encontra em si

A morte, a alegria e o respirar
São bases para as suas palavras imutáveis
São elementos essenciais para o seu jardim
Selvagem não restritivo não amestrado

No seu corpo a lei do mais fraco rege a luta pela vida
As alegrias floridas ferram as tristezas
E o contrário é metamorfose dos sentidos

Não há um caminho delimitado
Apenas um norte desnorteado e perdido
Que lhe dá a direcção incerta do que é quer ser

A bússola em que se apoia não tem chão que o segure
Porque o chão é um limite inferior insuficiente
Vive no céu abaixo do piso que lhe dá forma física
Ansiando o fragmento de dia que lhe dê ânimo

Os seus passos são confusos e levianos
Como se de bicos de pés conseguisse ver algo mais
Esgueira-se sobre o seu corpo na procura daquilo que não lhe dão
Estica-se ao máximo para dar para fora a alegria que lhe negam
A alegria de compreender o justo divinal

Senta-se só feliz de ser na cadeira equilibrada pelos seus pés
Reavivando o entorpecido pelos voos do quotidiano

É o que corre dum lado para o outro

Qual barata tonta dum buraco húmido escurecido
Amealhando as percepções expelidas pela sustentabilidade de ver
Na amplitude da dor que se pode esconder.

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