segunda-feira, maio 7

OCCULTA PECTORIS SEDITIOSA

Viajo pela alma
Como poeira que levita com o vento
Solto-me de rédeas pesadas
Do peso pesado pelo Tempo

Canto uma melodia desconhecida
Uma ária perpetuada pela noite

Nos meus dedos
Uma fragrância, um cheiro a Sentimento
Uma procura necessária pelo Belo…

No meu peito
Um batimento descompassado
O Sonho que não passa de sonho
Uma Esperança que não passa de esperança
Um desalento com tudo o que passa ao lado

Na minha mão
Uma Força, um apelo
Uma Voz, um pesadelo
Um rio que não corre para o mar
Um poema que nada diz
A quem nada quer entender

E assim, sofro, por ver sofrer
E sofro, por ver querer sofrer
E sofro, pela inexistência dum eco
Eco das almas de outros cantos
(Fragmentos dispersos no ser
Pedaços estilhaçados pelas bombas
Pelas bombas do atarantado viver)

A desistência, por vezes é bela
Quando desistir é irremediavelmente sorrir
E se sorrir é necessário
É tanto quanto fugir

E assim a Beleza perdeu-se… é agora outra,
Ficou para trás
É agora um corpo etéreo, como sempre
Fácil de manusear
É uma fuga constante
Incessante, é uma bola-pequena-brilhante…

E o brilho ofusca a Esperança
E a Esperança esconde-se sob a capa do não-querer
E os homens perdem-se na verosimilhança
Na verdade que é esconder!

É isto… o belo o sonho
Os sonhos
É isto que nos reserva orgulhos medonhos!

Eu não fujo, mas sonho
Eu não me escondo, mas vivo
Farto de viver, como enganado
Sonhador
Escondido!

Arreei a minha capa
Entreguei-a como beleza
Fiz peito, dei azo à minha natureza
Sorri de querer ver outros sorrisos

E assim
A Esperança e o Belo redimiram-se
Desistiram de ser meras palavras!...

Sem comentários: