segunda-feira, abril 2

CONFISSÕES




Procuro raramente pôr no papel aquilo que é dado como belo. Não porque não goste da beleza, mas tão só e apenas porque acho que o belo é-me reservado. Não é preciso criar beleza daquilo que é belo por si só, e que, a meu ver, é mais que suficiente para me tornar num ser que respira e faz aquilo que quer. Prosseguindo. Vejo naquilo que escrevo uma certa desolação com o presente. Releio sempre o que escrevo e a meu ver são verdadeiras obras primas. O que os outros pensam de depreciativo em relação à minha forma de expressão, é para mim uma fonte de deleito e satisfação. Consegui impôr o meu ritmo, o desconforto, consegui que parássem mais um pouco para pensar, sem se camuflarem em

"tudo o que de bom tem a vida"

Seguindo em frente. Hoje em dia, há uma preocupação muito grande em ser feliz idilicamente, como se tal parafernália fosse a desculpa para a merda que nos rodeia, como se tudo isso fosse areia atirada por nós mesmos para os olhos que são nossos.

"só é cego aquele que não quer ver"

E se por vezes cego pareço, não é porque não saiba dar valor a

"tudo o que de bom tem a vida"

mas simplesmente porque não tenho medo de exprimir o meu descontentamento. Poder-se-á dizer que isso é

"bater no ceguinho"

e vendo bem talvez seja... é do género:

«ó ceguinho acorda! acorda!»

Não tenho pena dos que querem à força toda desviar o olhar de tudo aquilo que é grotesco, nada disso, é mais do tipo: tenho pena de tentarem formular uma opinião apoindo-se em meras suposições que não fazem sentido nenhum enquanto pessoa que sou. Uns, compreendem uma dor imensa, em vez de compreenderam uma forma de exprimir cristalizada pela vontade. outros, uma espécie de peditório por algo que cada vez menos procuro. Nada disso me consome, muito menos me é compreendido como algo que me atormente, somente acho que tal tentativa de compreensão é tentativa em vão.

«Não me sinto na escrita como homem que sou em vivência. Na escrita, sinto uma enorme vontade de depositar a esperança. Nas pessoas, eu incluído, sinto insuficiente esperança que necessita de ser fortificada pela palavra, sinto as pessoas com um pesado nó na garganta apertado pelo medo de exprimir aquilo que sentem e querem, verdadeiramente, em relação à vivência.»

Para concluír, e para
"não fugir com o cu à seringa"
direi com todas as certezas possíveis e encontradas que sou alguém feliz. Posso não o ser, sob o olhar de alguém prosaico, habituado à rotina que dá a cara por muitos homens, posso não corresponder aos moldes que foram projectados coerentemente pelos séculos, milénios, por aí fora, mas sou feliz comigo e para mim e isso ninguém me tira; a razão - que-não-razão - é simples:
«Procuro uma felicidade que não existe e essa procura faz-me sentir feliz, comigo próprio.»

1 comentário:

Anónimo disse...

É mais facil deixarmo-nos ir na multidão não é?