quinta-feira, março 29

O CANTO SURDO DE UM MUDO NUMA NOITE CHUVOSA DE INVERNO!

Neste meu canto humedecido pelo céu povoado de nuvens que lá fora se constrangem, prossigo a minha odisseia pelo mundo em que vivo, vou vivendo o momento de um mundo que se auto-destroi e corrompe pelas circunstâncias em que as vivências se tornaram. Porque que te destróis ó homem da sabedoria que é demência plausível? Onde anda o sonho transpirado pelos poros desse teu cérebro cansado de tudo o que constróis à tua volta? Ó mundo sobrepovoado de morte e de ganância, porquê que um homem só no seu quarto como o meu se arrasta em pensamentos contraditórios em relação ao estilo de vida que leva? Vou à cozinha e dou um gole num massificado refrigerante que dentro de mim vai roendo o canceroso estômago entorpecido de merdas. Olho para a parede branca e lisa e vejo o destino de tudo aquilo que me rodeia, vejo o nada, a longa caminhada pelo nada, por tudo aquilo que não nos preenche, tudo aquilo que nos torna azedos como um metafórico limão. Mundo cruel é este em que respiramos. É o mundo da guerra eterna pela felicidade, que se vai resumindo a uma ilusória felicidade simbolizada e encarcerada pelos campos de batalha que infelizmente são tão reais; mundo que vive do sangue escurecido e sujo pela tinta impregnada numa nota. Tudo se resume a isso, à ilusão de que a vida se vive com dinheiro e que tudo o resto sem ele não é mais do que uma preguiça notória de quem tenta viver à custa dos outros. O cansaço consome-nos o corpo, o corpo não mais se sente vivo, é apenas o cadáver que repousa sobre a areia quente dum deserto global; a vida deixa de ser vivida, só nos resta a sobrevivência impregnada de multiplicadas oportunidades artificiais; a sobrevivência de que falo não faz sentido; pelo tapete longo que é a superfície da terra, outras formas de sobrevivência ainda mais sofrida fazem-se ouvir, sofrem porque querem mais, querem tudo aquilo de todos nós que sofremos por demais, querem porque não têm, porque não vêem outras formas de querer, querem porque ter o que temos é um sonho impingido, é uma lavagem incutida pelas mãos do homem abstracto que fez o mundo, pelo deus, deus desses seres minúsculos que somos como homens, o senhor-deus da supremacia dos tempos e das tempestades ornamentadas pelo sangue coagulado dos seus filhos.



03/01/07

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