terça-feira, janeiro 9

Poema Non-sense (exploração patafísica)

Boris Vian (1920-1959)
A verdade ecoa numa concavidade de luz que reluz na parede de cimento contado.
Na liberdade do céu vejo um peixe sem escamas que voa para um céu que não o do limite esponjoso.

«Olho o chão que se deixa ficar para trás entre secretárias e colunas duma comunicabilidade silenciosa.
Procuro o cerne num pedaço de metal frio que explode suavemente nas minhas mãos.
-E a cadeira, para que me senta?
Talvez me sente porque nas mãos tenho uma vara-que-não-vara que me serve para afagar.
Talvez porque uma foto de papel de seda me deixa sequioso e impaciente.
Talvez porque a mente nos meandros da rocha não saiba que o gato já passou há bastante tempo.
-Um miar ladrou bem alto no espaço sólido duma noite radiosa de Inverno.»

Algures pela concha encontrei uma maçã.
E nessa saliência de cavaleiro do presente vi um olhar!
O brilho era baço e de cavalo!
O ponto era negro e reluzente como a luz dum farol apagado.

«As coisas que se dizem quando tudo não se quer dizer sem regras nem sentido!»

Caminhar verde de crista de lua que se espanta com um cão radioso.
Passo preso com bolinhas espalmadas de cor acolchoada.
Quadrados quentes mediatizados pelo querer da tarde vagarosa como um carro de auto-estrada!
Fio de corda solta numa manhã espacial como a postura!
Voz de botão de tecto que traz consigo o cabide ancestral.
Textura ajudada pelo pêlo dum orangotango citadino.
Música pendurada nas paredes duma imaterialidade física.
Complexidade duma casa com as postas dos dedos enclausuradas pelas composturas descosidas.

«Pergunto ao chão quantas vezes comeu a sopa hoje.
Automatizo a maneabilidade da inserção formatada.
Ajudo a demência a ganhar forma na roupa de cama que visto no tronco de manga.
Contabilizo a sombra e constato que afinal o cão ainda não passou.
Era afinal uma caneta de cheiro a laranja que voltava da sua odisseia por um garfo sem dentes!
-E a faca? Falta a faca!»

Faca do sonho duma laranjeira despida de massas!
Colchão duro como a polpa dum balão térreo.
Ar constrangido pela sobreposição do paragrafo que só existe na sua imprópria inexistência.
Persiana solar que se queda nas despropositada interacção dos telhados subterrâneos.
Deambular quieto da linha obliqua duma horizontalidade do passado.
Símbolo transparente que se arrasta tardiamente sobre a folha duma estrada ainda verde.
Enquadramento de inquilino que se pendura num chinelo de cozinha.

«Procuro a almofada! Não quero nada mais que não seja casaco de fecho Napoleão.»

Cabala de tecla roxa como o morango.
Cinzeiro limpo por um rectângulo sem ângulos.
Limpeza da ombreira numa casa que se encontra num monte de penas para o ar.
Lata trilhada por uma pluma feita de arame constrangido.

«Onde andas? Já dei voltas e mais voltas e nunca mais te desencontrava!»

Cores tardias que ecoam pela massa saturada pelo ar!
Letras riscadas por um marcador deliciado pelo agir da espuma francesa!
Demência concêntrica.
Espirais espiraladas pelos poros duma boca fechada.
Libertinagem maquinal que vai flutuando pesada pelas paredes arredondadas como um plano perfeito.
Tomada de pose perante o caminho dum beco com saída.
Mentira conspurcada pelo homem-guerra que voa como um pássaro sem barbatanas.
Jogo de coisas e não-coisas na imensa clausura duma farinha amarelada pelo não passar da mota do Pé Raso.
Desnivelamento perante um camafeu cor de braço oscilante.
Dezasseis.
Vinte e quatro.
Oito milhões quatrocentos e vinte oito mil cento e setenta e um!
Quatrocentos biliões cinquenta e sete milhões trezentos e vinte sete mil e uma miríades ululantes!

«Números, apenas números!»

Uma.
Cinco.
Nove idades!

«Sinceramente ainda não sei ao certo…
Ainda não me disseram.
Isso para mim são apenas nove idades sem ligação passível!»

Colaboração descolorada pela água dum nariz de carteira de bolso.
Impressão contida na impossibilidade de dar azo às tentativas furtadas por um ladrão inocente como a madeira.
Raízes sem fumo.

«Fumo sem raízes!»

Raízes fumo sem.

«Sem raízes fumo»

Sem fumo raízes!
Colibris sem cabeça de alfinete.
Alfinetes sem colibris de cabeça.
Cabeça sem alfinete de colibris.
De colibris sem alfinete cabeça.
Colibris sem alfinete de cabeça.
Sem alfinete de cabeça colibris!

«Trocas e baldrocas!»

De!
Sem!
Colibris!
Cabeça!
Sem!
Cabeça!
De!
Colibris!
Sem colibris!
De cabeça!
Sem cabeça!
Colibris cabeça!

«Mando-me de cabeça sem colibris à mistura!»

Era uma vez.
Mas também foi duas vezes!
Em tempos!

«Mando-me de colibris com uma cabeça à mistura!»

Foi em tempos.
Mas ainda é!
Um homem sem rumo-alienado.
Um sentido não sentido.
Uma broca sem diamante num manto que não o cobria!
De amante restava-lhe o socado ventríloquo de alarido constante.
Coloquial levitado pela barata alargada do confuso buraco de ardina.
Exploração do sítio onde as larvas do bicho-da-seda faziam o seu pinho.

«Foi num pinhal abençoado, as escadas estavam lá e eu vi-as, estavam por baixo dos degraus!»

Preto e branco ressoado pelo respirar dum pé!
Laranja e melancia cortadas por inteiro.
Frutaria duma esquina sem homens por certo.
Longevidade intima complicada pela razão.
Substância detalhada na beira dum centro sem bordas.

«Quero o fim! Onde anda o fim?!»

Um fim sem fim que se encontre na finalidade de findar.
Umfimsemfimqueseencontrenafinalidadedefindar!
Uma colagem sem cola que sustenha o rumo das palavras que não são.
Uma cola sem colagem que sustenha as palavras que não são apenas as que escrevi.
Uma inglesa escrita pelo canto dum tenor indiano!
Ladear a escrita para inserir na parte de forra uma essência quase aquecida.
Explorar para expor a experimentação explicativa exprimida pela explosão expugnável.

«O cigarro que bafejo apagado vai ardendo através da inspiração ordenada pelos cantos das ninfas do Beijo.»

Ojieb od safnin sad sotnac solep adanedro oãçaripsni ad sèvarta odnedra iav odagapa ojefab euq orragic o.

«No fundo do cume das coisas era apenas isto que tinha para dizer!»
















Sem comentários: