quarta-feira, agosto 9

O TEMPO A PRETO E BRANCO

"Quadrado negro" Malevich

I

Acendo um cigarro,
Perco-me na sombra nocturna
Que me gela o ser que não sou,
Aqueço os pulmões de alcatrão profundo
Que corrói a azia da minha comiserada existência.

Encontro-me e rapidamente me esqueço,
Existo, sem tão pouco me sentir pesar.
Acordo, sem necessidade de procurar
Sem precisar de artifícios,
Sem obrigatoriamente respirar…

II

Azeda é a luz do dia,
Quando a noite é todo meu eu,
Não me quero, não me sinto querer!
Sou a apatia, sou a verdade
Sou a verdadeira vontade,
Sem recorrer ao rumo
Da contemporaneidade

Precoce…

Arrasto-me pelo betão árido,
Como um fantasma do passado
Que não sabe querer, que não quer existir
Como um vulto dum ilusório diabo

III

Repito-me no reflexo do tempo
que não existe,
Que se perdeu nele próprio:
entre o negro da sabedoria
E o branco da ignorância…

Agito-me, a alma já não faz sentido,
Sente-se amarrada pelo pescoço,
E de bicos de pés tento ver
O que ninguém consegue querer
Ou simplesmente sentir…

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