O homem que nunca queria,
andava pela cidade a chutar latas,
nunca queria, e as latas iam rebolando.
Era alto e o espelho não enganava,
de cada vez que se olhava, pensava,
não quero, detesto a magia do verbo.
Os degraus, enquanto descia,
pois o elevador estava avariado,
nunca lhe trocavam os pés,
contava-os um a um
e lá chegava o murmúrio metálico.
A primeira que encontrasse
seria a primeira de muitas. As latas
quase conseguiam, às vezes, fugir
com o vento, mas ele era teimoso.
Raramente falava, chutava latas
para não estar em silêncio.
Quando encontrava uma mais exótica
não a empurrava para longe com o pé,
guardava-a num saco transparente.
Quantas vezes, enquanto procurava latas,
ouvia: tens uma lata do caralho. Sorria,
mas raramente procurava resposta.
quarta-feira, setembro 3
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