segunda-feira, março 3

O TOLDO VERMELHO

Uma bela noite de verão. A lua mingua, as luzes captam os pedaços iluminados de palavras que murmuram na consistência de pessoas. A temperatura é agradável, o álcool acompanha o silêncio da noite que se faz em copos de vidro abençoados. As cabeças são muitas, movimentos perpétuos na sonoridade aconchegante que tudo mistura: volumes gargalhadas sorrisos e cheiros. Ali estou, descontraído em ritmo sereno que ouve, vê, fala e passa ao lado. O movimento é o centro de gravidade pendular que me faz caminhar na noite. A pele está quente enquanto se gesticula palavras em gestos extraordinários. A melodia vai em frente, sou animal natural da realidade em que vivo. São horas aveludadas enquanto se pede mais um fino. Uma felicidade de bêbado vem-me bem estampada na cara que sorri. Vivemos todos numa sincronia momentânea. É uma noite de verão quente, as palavras sob o toldo vermelho fazem ouvir passadas mais amplas. Somos todos filhos do nosso tempo, sem deus, sem pátria inquestionável, e com toda uma vontade adormecida de ser feliz. Vivemos todos da diferença que é unanimidade. Somos felizes em nós, nas alturas em que ecos de conversas se explanam pelas estrelas que encimam a noite que se vai fazendo iluminada de vida. O ambiente está calmo, os bilhares repousam sob o olhar que é o meu. Tudo se compreende, nada desalinha.

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