quinta-feira, julho 5

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Por vezes as circunstâncias tornam-se estranhas, repletas de fantasmas que nos assolam por as concavidades da cidade serem propícias para o deleite previsível a que nunca nos habituamos. As suposições transformaram-se em certezas que não queremos aceitar verdadeiramente. Um momento chega, já previsto pelo vento que para lá nos empurrou, corta-nos, enfraquece-nos, um mundo transforma-se em metamorfose instantânea. Um cigarro acende-se depois de alguns outros fumados como quem inala gás com uma pressão constante que surpreendentemente nos abana. O perímetro condensa-se, um anel de beleza mental ganha forma no processo que o solidifica, como se tudo fosse tudo diferente. Os pássaros apercebem-nos pela sombra provocada pelo sol que se esvanece na noite que tudo tem, como uma nuance de pincel húmido de lágrimas que nos escorrem pela cara que solidifica em vincos que nos marcam e são desenhados de novo, com uma outra consistência. As linhas tornam-se voláteis, correspondentes a um som que nos embala na mais confusa das conclusões confirmadas pela carne que não se vê. Um ânimo estranho pega em nós, pesados como uma rocha, granito talvez, componentes são formados pela passagem do tempo até encontrar uma rigidez aparentemente insensível mas chorosa. O olhar fica preso, tudo tem outras cores, diferentes pinceladas na tela que se vai deixando ver até ao último toque. Diversas cores recalcadas e coloridas por cores mais fortes mais sombrias que provavelmente vão ser calcadas e recoloridas pela emoção que dá vida ao pincel. A experiência começa a dar azo a novas técnicas, palavras que nos são feias mas bastante úteis. Usa-se um instrumento bem afinado, com uma definição sonora exponencial que ecoa pela sala de espectáculos enquanto o público rejubila alheio. A música vai embalando as necessidades abanando-nos como se procurasse misturar tudo o que temos e concluímos. É bela a sonorização da sala, os altos os baixos e o graves e agudos, entrosa-se tudo numa parafernália deliciosa composta por uma imensidade sensorial que perfura o local onde me encontro. A vida corre no seu rumo inconstante na procura da proximidade duma perfeição natural que nos faça encontrar mais mais e mais. Uma perfeição que nos remete para as profundezas da alma, a eterna metáfora que nos magoa corporalmente.
As árvores agitam-se entre as paredes que formam o espaço sensitivo. Dão vida ao cenário pintado no caminho da mestria. O todo ganha espaço, liberdade para tentar aperfeiçoar o voo, pequenas penas vão crescendo até planarem serenamente sobre céu que se expande. Algures o tempo corre como água numa fonte cristalina e misteriosa, o caminho é longo e cada passo é menos custoso. Pequenos fios de água pelo chão quase imperceptíveis vão-nos saciando a sede até ao dia em que a fonte secar. O meio caminho vai no início e ainda tem muito mais que metade para nos dar.

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