domingo, março 25

TOXICODEPENDÊNCIA




Arrastam-se como cobras
Amolgam-se como chapas de um chapeiro citadino
Prolongam-se em chamas crepitantes
Apodrecendo obscuramente o seu perpétuo caminho.

Coçam-se, comicham-se, vão se destruindo
Em peregrinações constantes ao pesadelo.

Roubam, como todos nós
Talvez duma forma mais directa,
Perdem-se como nós
Mas numa aparência mais concreta;

Desfigurados pelo reflexivo tempo
Congeminam uma vontade única:

Mutilação com agulhas e simples garrafas de plástico…

Pergunto-me por que o fazem,
Pergunto porque somos assim
E embora não encontre uma resposta em concreto
Uma abstracta apareceu…

São assim porque assim somos,
Filhos da vontade que nossa não parece individualmente
Aos pais duma vontade colectiva que nos desfigura;
Somos uma parte de um todo
Um todo real e que é tão nosso
Que por muito injustificável que pareça
É a razão da peregrinação…

Não se justifica tal afunilamento
Não se justifica a apatia de ver a vida como ela é
Talvez por isso se quedem em garrafas adulteradas
Talvez assim se esqueçam da vida estúpida que levam…

São vidas, são opções insensatas na abismal estupidez
Que é apenas fruto da estupidez colectiva!

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