segunda-feira, fevereiro 5

A ABOMINÁVEL MULHER DAS NEVES

Devido a visões repetitivas do quotidiano, apercebi-me um dia destes de uma discriminação gigante no que toca ao fantástico mundo das animalidades.

Sendo assim, é um orgulho para mim referenciar tal constatação.

Desde puto que sei que os leões tiveram sempre pela frente as leoas, os cães as cadelas, os gatos as gatas, os macacos as macacas, por aí fora.

Desde sempre tive a noção de que por trás dum grande macho está uma grande fêmea ou vice-versa.

Mas um dia destes, enquanto caminhava pela rua com um olhar oblíquo-descendente, constatei que uma fêmea, mais da história da animalidade fantástica, do que do mundo selvagem comum, foi relegada para a inexistência, quando a sua própria existência escondida é tão óbvia quanto o facto do Abominável Homem das Neves ser uma criatura das montanhas, farto em pêlo e senhor de grunhidos selváticos.

Falo-vos pois, da fantástica, encantadora, da fabulosa ABOMINÁVEL MULHER DAS NEVES!

Depois de tal observação, foi notável e até surpreendente verificar que a ABOMINÁVEL MULHER DAS NEVES encontra-se já enraizada na nossa cultura dita ocidental.

Quem lê este isto deve estar a questionar:

«Mas afinal, de quê que fala este homem abominável que não das neves?»

Esta pergunta faria sentido não fosse eu explicar as razões destas minhas dilacções.

O que afirmo, o facto de vivermos cada vez mais rodeados de Abomináveis Mulheres das Neves, é apenas a constatação de quem olha para baixo.

Pergunto-vos agora:

Quantos de voçês nunca se depararam no autocarro, no metro, na rua, no café, no salão de bilhares, na baixa, no comboio, com aquelas criaturas patudas com imensos e fartos tufos de pêlo cravados à pele das partes inferiores das pernas?

Certamente que já sabem do que estou a falar!

Sim, essas mesmas!

O facto de existirem nas mais diversas tonalidades e formas, contrariamente ao pobre desgraçado macho grotesco de pêlo branco sujo que vive numa gruta húmida num monte longínquo e soturno, é uma consequência da adaptação biológica e veloz à vida citadina.

Estas fêmeas, que se desenvolvem fora do habitat natural há já bastante tempo, muito antes do tempo em que os relógios passaram a ser digitais, são agora, seres civilizados com hábitos prosaicos e perfeitamente adaptados à vida do dia-a-dia.

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