quinta-feira, fevereiro 22

A LOUCURA


"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:


Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, a gritar: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.E quando cheguei à praça do mercado, um miúdo no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e a minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”Assim me tornei louco.E encontrei tanto liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."


Gibran Khalil Gibran

1 comentário:

Anónimo disse...

Belissimo!